Por que sentimos vergonha? Para falar sobre esse tema, vou começar comentando sobre um TED talk com inúmeras visualizações chamado “Escutando a vergonha” de Brené Brown. A palestrante inicia contando sobre sua própria vergonha ao falar de suas dificuldades e expor sua própria vulnerabilidade em outra palestra do TED talk: “O poder da vulnerabilidade”. Essa abertura inicia um pensamento embasado no fato de que todas as vezes em que é necessário se colocar diante de um desafio, cometer uma ousadia, a vergonha é parte que diz que não se é bom o bastante e aponta tudo aquilo que você não é ou não fez.
Segundo a autora, silenciar a vergonha e persistir é passar por dois clichês: “você não é boa o bastante” e “quem você pensa que você é?” A vergonha é um sentimento que se refere a uma sensação de inadequação, de não ser suficiente para algumas situações.
As ideias rígidas a respeito de como os outros devem ser vem de padrões sociais que afetam a todos e os indivíduos mais envergonhados tendem a serem aqueles que se ocupam mais fortemente desses padrões, tentando estabelecer normas de condutas ou regras sociais para si mesmos. Costumam ser pessoas que se preocupam muito com sua imagem pública e tentam antecipar ou adivinhar o que os outros pensam sobre seu desempenho ou aparência. A ideia de ser falha pode ser tão difícil que provoca um movimento de retração como uma tentativa de se proteger de julgamentos e de ser reconhecida em seus defeitos.
Ao se fechar em um “casulo”, a pessoa vai gradativamente deixando de se expor a situações cotidianas, reforçando a ideia de incapacidade que foi o que originalmente fez com que o indivíduo se fechasse. Com a auto estima abalada, a interação com o mundo e com os outros fica mais difícil e é comum que essas pessoas passem a evitar situações de exposição pública, contato visual e aproximações afetivas. Ao passo em que isso acontece, vão aumentando os pensamentos negativos, o foco em si mesmo e em tudo aquilo que é considerado como inadequado e defeituoso.
Mas como lidar então com a vergonha?
No TED talk mencionado no início do texto, a autora afirma que o antídoto da vergonha é a empatia. Isso porque, a pessoa envergonhada é capaz de se colocar no lugar do outro, mas normalmente para imaginar que tipo de julgamento o outro faria sobre ela. A situação pode mudar se, ao invés de usar essa habilidade para ser um crítico poderoso sobre si mesmo, a pessoa passar a compreender que o outro também é falho, sentindo que existe espaço para existir e se relacionar para além da perfeição idealizada.
Na verdade, sempre que pensamos em nos expor ou fazer algo grandioso, ficamos aguardando o momento em que nos sentiremos perfeitos para tal. Esse momento é ilusório, faz parte da possibilidade de convivência social poder estar vulnerável e deixar de sentir vergonha por ser o que se é.
Como a terapia pode ajudar?
É claro que pensar sobre os caminhos de forma racional é o início de uma compreensão sobre o tema, mas é no cotidiano, no olhar cuidadoso sobre aquilo que se é e se quer ser que a elaboração de uma noção mais gentil sobre si mesmo pode se formar. A aceitação das próprias possibilidades de ser de uma determinada maneira é a base para a desconstrução da vergonha.