O lançamento do livro “Geração ansiosa” de Jonathan Haidt trouxe para o centro um debate importante acerca de como os celulares e redes sociais impactam na formação de crianças e adolescentes.
Quando e por que os celulares se tornaram tão presentes na vida dos jovens? Como fazer para diminuir o tempo de tela? Todas essas são questões primordiais, mas que ultrapassam uma resposta prática e nos obrigam a olhar para um cenário mais amplo. Se a ansiedade é uma perturbação que se refere a um “excesso de futuro”, devemos questionar como toda essa tecnologia nos coloca na relação com o tempo.
A questão do tempo, da forma como entendemos e aceitamos os “tempos” que a vida exige já vem sendo exposta há algum tempo. Em 2013, no livro “Present shock: When everything happens now” ou “Choque do presente: quando tudo acontece agora” de Douglas Rushkoff, da New school University de Manhattan, há um alerta para o comportamento ansioso progressivo da sociedade moderna. De acordo com Rushkoff, o imediatismo é concebido pela ideia de que “O passado não existe e o futuro é sempre incerto”. Então, uma grande parte da sociedade prefere viver o agora e a qualquer custo. Nada mais ao seu redor e nem a vontade das outras pessoas interessa. É uma busca constante pela satisfação imediata e isso certamente tem relação com a tecnologia e todas as melhorias que trazem a instantaneidade para o desejo.
Nesse prisma, podemos pensar que a relação das crianças e adolescentes de hoje com a espera já é diferente das gerações anteriores desde muito cedo. As crianças dispõe da liberdade de escolher o desenho que querem assistir, na hora em que querem ou podem assistir e livres de intervalos comerciais. Adolescentes se comunicam por celular, sem precisar esperar o dia seguinte para contar algo ao amigo. Nosso tempo de espera diminuiu radicalmente. Nossa tolerância a ele também. Precisa comprar? Vai na loja online a qualquer hora, não é preciso esperar a loja abrir.
Até mesmo o não saber foi perdendo o lugar nos dias de hoje. Não dá nem tempo de imaginar uma solução para sua pergunta, você coloca no Google e descobre a resposta. É claro que temos ganhos incríveis com isso, mas também cabe perguntar, o que perdemos nesse processo. Que hora descansamos? Que hora desaceleramos, se sempre é possível “aproveitar” para fazer alguma coisa.
Tudo isso tem muita relação com a chamada geração ansiosa e nosso debate precisa ir muito além do uso do celular. É necessário um olhar crítico para essa cultura do imediatismo, de forma a voltar a “estender ” o tempo nas dimensões de passado, presente e futuro. É preciso suportar o tempo do não fazer nada, do tédio, do descanso e da espera.