Vivemos uma cultura que associa morar fora ou viajar com algo que nos ajuda a lidar com qualquer sofrimento mental. É muito comum escutarmos: “vai viajar que passa”, ou “vou recomeçar minha vida em outro lugar e tudo vai ser diferente”. No entanto, sabemos que viver fora do país de origem, por qualquer período de tempo, pode ser desafiador e trazer sentimentos como solidão, saudade, conflitos de identidade, insegurança profissional, entre outros. Isso significa que não há garantias de ausência de sofrimentos antigos ou novos.
O diagnóstico de ansiedade e depressão em meio a uma decisão de morar fora pode ser difícil porque é um momento em que se espera que haja naturalmente alguma ansiedade – já que se trata de uma mudança importante – e alguns desafios podem provocar sintomas parecidos com a depressão. No entanto, é fundamental prestar atenção na duração e intensidade desses sintomas e procurar ajuda quando houver a suspeita de algo além do normal. Um profissional brasileiro ou do país local pode avaliar melhor se as respostas emocionais podem ser excessivas ao que se está vivendo.
O maior perigo de ignorar sintomas de que algo não vai tão bem nessa situação de mudança é tentar encontrar conforto com o uso abusivo de álcool, outras substâncias ou até mesmo uma automedicação inadequada. Como muitas pessoas se mudam sem que haja vínculos íntimos e mais aprofundados no país exterior, podem se sentir muito sozinhas e sem a possibilidade de contar com alguém que alerte para a necessidade de uma ajuda profissional.
De forma geral, é fundamental lembrar que mesmo estando seguro e confiante na escolha feita – de passar um tempo, ou começar outra vida no exterior – podemos esperar que apareçam desafios e que é importante entender quando é hora de buscar ajuda.
Algumas pessoas, quando fazem a escolha de morar fora, já tinham quadros anteriores de ansiedade ou depressão. Nesse caso, é importante perceber que o acompanhamento médico ou psicológico deve permanecer mesmo que a distância.