O fim do ano também é sobre recomeçar. Todo ano ouço inúmeros relatos sobre esse momento de passagem do qual estamos nos aproximando com a chegada de dezembro . Há quem desfrute da nova esperança que se instala na virada do ano e há quem relute em se abastecer de novos sonhos e projetos, num olhar de mera continuidade.
Acontece porém que todo processo que se acompanha nesse momento social intenso de fechamentos e recomeços é grande demais para simplesmente se tratar como um dia após o outro. De certa forma, todo ritual criado e mantido pelo homem serve a alguns propósitos que nos fazem pensar sobre a condição humana e nossa relação com o tempo.
Embora o homem “seja um tempo que se esgota” – como diria o filósofo Martin Heidegger” – é no esquecimento dessa condição que vamos vivendo. Em momentos de passagens como nesta época de fim de ano, isso se explicita e somos colocados frente a frente com o tempo e, especialmente, com o futuro.
O futuro é incerto, cheio de variáveis que vão além do nosso empenho. Mesmo assim, para poder esperar por algo, ter esperança, é necessária uma retomada da capacidade de se projetar a frente, uma disponibilidade para sonhar e a coragem para conquistar. E mesmo com todo nosso planejamento, o futuro só vai existir em um universo que é coletivo e no qual o sonho que sonho sozinho esbarra no sonho do outro.
Em uma sociedade que privilegia muito projetos mais individualistas – trocar de trabalho, perder peso, casar, ter filhos, etc – essa é uma época em que todos se põe a sonhar ao mesmo tempo e talvez, ousem acreditar que possamos conviver em sociedade. A reunião das pessoas em festas, rituais e celebrações, podem, ao menos, nos servir para lembrar do mundo comum que compartilhamos e de que nele habitam seres repletos de desejos de que no próximo ano, algo seja melhor.
O sonho coletivo talvez ainda seja algo distante para muitos, mas essa é uma época em que lembramos, através dos ritos de passagem, da passagem do tempo e dos términos e recomeços a que todos que vivem estão submetidos. Nessa impermanência que se explicita, que seja possível realinhar prioridades e, quem sabe, em tempos de guerra, sonhar com a paz.