A “Grande Renúncia” e o sofrimento no trabalho
Um dos temas atuais que tem sido bastante discutido no mercado de trabalho hoje se refere ao fenômeno da demissão voluntária em massa de milhões de trabalhadores em meio à pandemia, chamada de ‘Great Resignation’, ou a “Grande Renúncia”. É algo que repercute até hoje sobre os cenários de trabalho e emprego de diversos países, inclusive o Brasil e dá nome a um movimento que empresas ao redor do mundo vem enfrentando, provocando dificuldade em reter funcionários. É como uma resposta à crescente insatisfação das pessoas com suas carreiras e estilos de vida e algo que a pandemia pode ter sido um catalisador para muitas pessoas que já estavam questionando seus valores e prioridades no trabalho e na vida pessoal.
O papel do trabalho
Podemos dizer que a pandemia de COVID-19 teve um impacto significativo na forma como as pessoas enxergam o trabalho e a carreira. Com o aumento do trabalho remoto e a mudança na dinâmica do trabalho, muitas pessoas tiveram a oportunidade de repensar suas prioridades e questionar se suas carreiras e estilos de vida eram realmente satisfatórios. Aumentou uma busca por um equilíbrio entre a vida profissional e pessoal e para alguns, isso significa renunciar a uma carreira de sucesso e buscar trabalhos que ofereçam mais flexibilidade, qualidade de vida e propósito.
No Brasil, um levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) a partir de dados do Ministério do Trabalho, mostrou que entre janeiro e maio de 2022 o número de trabalhadores com carteira assinada que pediram demissão de forma voluntária chegou a 2,9 milhões. A maior parte dos trabalhadores que se demitem tem escolaridade elevada e mostram uma visão crítica em relação às promessas do capitalismo e às más condições de trabalho.
A demissões mais frequentes podem ser motivadas por diversos fatores, tais como o estresse no trabalho, a falta de equilíbrio entre vida profissional e pessoal, a insatisfação com o estilo de vida que o trabalho oferece, entre outros. No entanto, a decisão de renunciar a uma carreira bem-sucedida e buscar uma vida mais equilibrada pode envolver mudanças significativas na vida financeira e identidade.
O que esse fenômeno nos conta e como buscar ajuda?
Falar sobre esse tema é extremamente importante porque nos ajuda a entender que existe uma lógica social em que a vida tem que ser dedicada ao trabalho. Tornar natural essa ideia é deixar de pensar em todo sofrimento que pode existir em se sentir como uma “máquina”, sendo obrigado a desempenhar e estar disposto a todo momento.
A procura de uma solução mais radical, como a demissão voluntária ou uma mudança grande no estilo de vida pode existir e contribuir para a saúde mental. No entanto, é preciso lembrar que existem inúmeras maneiras de alcançar o equilíbrio entre vida profissional e pessoal e falar sobre isso abre a oportunidade para analisar a melhor maneira de sair desse sofrimento.
A terapia pode ajudar
O processo psicoterapêutico pode ser extremamente importante na compreensão do lugar do trabalho na vida de cada um e uma oportunidade para construir novas saídas. Refletindo sobre a maneira como a pessoa se relaciona e se posiciona no trabalho, é possível pensar em mudanças consistentes e planejadas, utilizando a visão crítica e a insatisfação como impulso para uma qualidade de vida melhor.